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Quem é pai ou mãe sabe que é longa a espera de nove meses até o nascimento do filho. Mas e se a espera fosse de dois anos?

Esse foi o caso de Ricardo*, gaúcho, solteiro, hoje com 40 anos e com uma filha de três meses. Diferente da maioria dos casos, a filha dele foi gerada a partir de uma barriga solidária.

O método, que é um tipo de reprodução assistida, consiste em uma mulher emprestar o útero para um casal ou para uma pessoa que quer ter filho, mas que não pode gerar. A obstetra e conselheira da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Conselho Regional de Medicina, Maria Lúcia Opperman, explica algumas das regras:

— Não precisa necessariamente ser um casal com dificuldades de procriação: pode ser homoafetivo, em que nenhum tenha problemas. Se for masculino, não podem gestar, e se for feminino, uma parceira pode doar o óvulo, e a outra, o útero. Essas situações, em geral, precisam passar pelo Conselho. Existe uma resolução do Conselho Federal de Medicina dizendo que parentes de até quarto grau podem gestar sem nenhum tipo de autorização. Mas se não for parente até quarto grau ou se pessoa que vai gestar tem mais de 50 anos, o caso precisa passar pelo Conselho, por uma avaliação mais densa — detalha.

O Conselho Regional de Medicina recebe entre dois e três pedidos de autorização por mês, por se tratar de uma técnica ainda pouco conhecida. No caso de Ricardo, quem gerou a filha foi uma amiga de longa data, que se dispôs a emprestar o útero. Ele precisou pedir autorização do Conselho, já que ela não é parente.

— Eu sempre li muito essas matérias. Sempre tive em mente que, para ter um filho, a pessoa não precisa necessariamente ser casada. Muitas vezes, acho melhor criar um filho sozinho do que ter alguém para dividir que não tem o mesmo pensamento. No caso da minha filha, a minha amiga que gerou sempre perguntava se eu pensava em ter filho, e eu dizia que sim, mas que ainda não havia aparecido a mãe do meu filho. Ela perguntou se eu não teria um filho sozinho, e eu disse que para mim seria tranquilo. E ela disse que poderia fazer. A partir disso, começamos a brincar, e ela disse que poderia ser minha barriga solidária. Comecei a estudar e a perguntar sobre isso, e aí tudo foi fechando — conta.

A amiga de Ricardo, que é casada e tem filhos, mantém contato e visita a menina. Durante todo o processo de gestação solidária, precisou passar por acompanhamento psicológico –como acontece em todos os casos deste tipo. A psicóloga e psicanalista Débora Farinati, da clínica Fertilitat, que trabalha há quase 20 anos com reprodução assistida, explica como funciona esse processo, que consiste principalmente em entrevistas:

— Vai se procurar entender, em cada uma das partes envolvidas, a estrutura da pessoa para passar pelo processo, seja a mãe biológica, seja o pai biológico, seja a pessoa que está se dispondo a gestar. No caso dessa pessoa ter filhos, as crianças também precisam passar por avaliação. A gente trabalha para que todas as partes recebam acompanhamento prévio e, ao longo da gestação e pós-parto, existe a recomendação também de que todos sejam acompanhados — explica.

O contrato de Ricardo com a amiga que gerou sua filha foi assinado em outubro de 2015. A autorização do Conselho Regional de Medicina saiu em janeiro de 2016 e, como a parte mais difícil foi o encontro de óvulos para doação, o procedimento só foi realizado em janeiro de 2017. O nascimento da menina, totalmente saudável, foi no dia 6 de outubro de 2017.

Apesar de toda a espera, a mãe de Ricardo manteve as esperanças e acompanhou o processo com ele o tempo todo:

— Eu disse: “Se tu acha que é bom para ti, para a mãe é um prazer”. Eu até não acreditava muito, sabe, mas ele foi atrás. Foi um pouco difícil, mas ele foi conseguindo, ajeitando, até que deu certo. Se ela chora, eu sou a primeira a pegá-la, dar atenção. Coloco encostadinha em mim para se sentir bem. Ela é muito amada! À noite, quando acordo, a primeira coisa que eu penso é nela — emociona-se sobre a neta.

Ricardo acompanhou exames, ecografias e todo o processo. E, com a filha nos braços, já sabe como vai explicar para ela, quando chegar a hora da pergunta, como nasceu: o amor e a vontade dele de ter um filho foram o que possibilitou o nascimento. Até lá, ele vai se acostumando à vida de pai de primeira viagem:

— Está tudo dentro do esperado. Tudo, tudo mesmo. O jeito que eu imaginava que ia ser, o jeito que está sendo, o ser iluminado que eu sempre mentalizei que ia ser. É claro, criança é uma caixinha de surpresas, mas ela é um amor de criança.

*O nome é fictício para preservar a identidade dele e da filha.

 

Fonte: Gauchazh

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