Por se tratar de um procedimento ainda bastante comum no Brasil, muitas dúvidas pairam sobre a laqueadura das trompas uterinas. Considerado um dos métodos invasivos e definitivos mais seguros que existe, as possibilidades de ocorrer uma gravidez após a cirurgia são muito reduzidas, de aproximadamente de 0,99%.
A laqueadura das trompas de Falópio ou das tubas uterinas é um procedimento cirúrgico que tem por objetivo impedir a passagem do óvulo para dentro do útero e também para que os espermatozoides não tenham passagem pela trompa, não encontrando o óvulo e impedindo a fecundação. A grande curiosidade da maioria das mulheres é quanto à possibilidade de religarem as trompas novamente (e poderem engravidar).
Existem atualmente várias técnicas de laqueadura. Seja por simples ligadura, só realizando uma amarração da trompa; por corte, quando se retira um pedaço da trompa deixando dois cotos amarrados em separado; ou por grampeamento, através de anel ou clipes. Todas têm a finalidade de interromper em definitivo a passagem pelas trompas uterinas.
Em geral, a mais comum das técnicas é a que retira um pequeno pedaço da trompa, no meio dela e próximo ao útero, dando em cada coto um ponto de cada lado para ter certeza de que o trânsito na trompa foi totalmente interrompido. De acordo com a técnica realizada é que se definirá se é possível ou não fazer a religação, ou anastomose dos cotos remanescentes das trompas, para permitir a passagem dos espermatozoides e do óvulo para garantir a fecundação.
A salpingoplastia – reversão da laqueadura – é um procedimento complexo e poucos serviços do SUS o oferecem. Pode ser realizada por anastomose tubária microcirúrgica, via laparotomia ou via laparoscópica. Quanto mais jovem a mulher esterilizada procurar pela reversão, maior é a probabilidade de que ela venha a engravidar no futuro. Quanto menor o tempo de esterilidade, maior é a chance de se engravidar novamente.
A possibilidade de engravidar, entretanto, reduz de forma significativa. O problema é que essa reversão nem sempre tem bons resultados porque, na maioria das vezes, não se consegue novamente a permeabilidade tubária e, mesmo conseguindo a reversão dessa permeabilidade, pode não se chegar à gravidez. Sendo assim, na maioria dos casos, é necessário realizar um tratamento complementar para engravidar ou inseminação artificial.
O grau de reversibilidade varia de acordo com a lesão que a técnica cirúrgica causou. Assim, laqueaduras feitas com anel plástico ou clipes de titânio são mais fáceis de reverter. O mesmo vale quando retirada uma porção no meio da trompa – existe a possibilidade na microcirurgia da trompa ser funcional e ter o êxito de engravidar. Já para as pacientes que foram submetidas à salpingectomia total (retirada das trompas), a reversão é impossível.
Após a reversão tubária, em média, as mulheres demoram de seis meses a um ano para conseguirem engravidar, se a recanalização for bem sucedida, mas o sucesso da cirurgia relaciona-se com vários outros fatores, tais como o comprimento e a vitalidade dos segmentos de trompas a serem unidos; a habilidade do microcirurgião; a idade da mulher no momento da cirurgia para reversão; o método utilizado para laqueadura tubária; a quantidade de tecido de cicatrização na região da cirurgia; a qualidade do espermograma do parceiro; a presença de outros fatores de infertilidade.
Quando as trompas reconstituídas não recuperam sua função reprodutiva é possível recorrer ainda à fertilização in vitro ou à transferência de embriões. A reversão da laqueadura tubária ou trompas uterinas deve ser considerada como uma opção adequada na busca de novas gestações para mulheres mais jovens (menores de 35 anos), sem qualquer outro fator de infertilidade além da laqueadura. As pacientes com mau prognóstico ou com idade mais avançada devem ser encaminhadas aos programas de fertilização in vitro.
O melhor a se fazer é a fertilização assistida, pois não há necessidade da trompa, o que ocorre é a coleta dos óvulos do ovário da paciente para colocar junto aos espermatozoides em laboratório e realizar a fertilização in vitro – com a possibilidade de seleção dos melhores espermatozoides através de um procedimento chamado de Super ICSI.
Se escolhe o óvulo e o espermatozóide para aumentar as chances de gravidez. A partir daí, esse embrião feito em laboratório é transferido para o útero da paciente sem a necessidade da trompa. Seguramente, as taxas de sucesso na gravidez por meio da fertilização in vitro são bem maiores do que as com reversão de laqueadura tubária.
Por tudo aqui explanado, é muito importante que seja feito um Planejamento Familiar responsável quanto à escolha do método contraceptivo ideal e quando se toma a decisão por um método definitivo, que seja de forma bem consciente para evitar-se o arrependimento e as possíveis dificuldades de uma cirurgia de reversão.
Tomas Patricio Swith Howard é ginecologista e obstetra do Hospital Nardini de Mauá
Fonte: Repórter Diário